terça-feira, agosto 22, 2006
Sombra
Não importa o que aconteça: sou e pra sempre serei uma sombra. Não sou quem eu quero ser e nem quem as pessoas querem que eu seja. Por isso não passo de uma sombra.
Não há como fugir. Minha vida nunca será minha. Sempre haverá quem aponte o dedo na minha cara. Sempre haverá quem ache que sabe o que se passa dentro de mim. Sempre haverá quem ache que sabe exatamente o que eu estou sentindo ou qual será o meu próximo passo. Sempre haverá quem ache que eu estou exagerando. Sempre haverá quem ache que me conhece bem. Nem eu me conheço bem. Não consigo imaginar como alguém pode me conhecer bem.
Ainda tento conciliar ser quem eu quero ser com o que as pessoas querem que eu seja. Mas não funciona. Me privo, me restrinjo, me limito, me omito, me abstenho, me contenho. Não é o bastante. Nunca é o bastante. Não sou digna de confiança.
O que sei é que estou cansada de ver dedos na minha cara a me dizer o que fazer, o que sentir, como agir. Cansei de levar broncas. Não sou mais criança. Nunca fui adulta. Não sou de ferro. Preciso de colo. Nunca precisei tanto...
Desisto de tentar. Desisto de acreditar. Desisto de mim mesma.
Não há como fugir. Minha vida nunca será minha. Sempre haverá quem aponte o dedo na minha cara. Sempre haverá quem ache que sabe o que se passa dentro de mim. Sempre haverá quem ache que sabe exatamente o que eu estou sentindo ou qual será o meu próximo passo. Sempre haverá quem ache que eu estou exagerando. Sempre haverá quem ache que me conhece bem. Nem eu me conheço bem. Não consigo imaginar como alguém pode me conhecer bem.
Ainda tento conciliar ser quem eu quero ser com o que as pessoas querem que eu seja. Mas não funciona. Me privo, me restrinjo, me limito, me omito, me abstenho, me contenho. Não é o bastante. Nunca é o bastante. Não sou digna de confiança.
O que sei é que estou cansada de ver dedos na minha cara a me dizer o que fazer, o que sentir, como agir. Cansei de levar broncas. Não sou mais criança. Nunca fui adulta. Não sou de ferro. Preciso de colo. Nunca precisei tanto...
Desisto de tentar. Desisto de acreditar. Desisto de mim mesma.
segunda-feira, agosto 21, 2006
Liberdade
Liberdade sem sentido, sem porquê, sem hora pra começar, nem pra acabar. Só liberdade.
Liberdade em formatos estranhos, cores estranhas, cheiros estranhos. Temperaturas, texturas, sensações.
Liberdade de dormir e não sonhar com mais nada.
Liberdade de não saber o que me reserva o amanhã e estar completamente feliz com isso.
Liberdade de saber o que eu quero pro amanhã e estar completamente feliz com isso.
Liberdade é tudo.
Liberdade é nada.
Viva a liberdade!
Liberdade em formatos estranhos, cores estranhas, cheiros estranhos. Temperaturas, texturas, sensações.
Liberdade de dormir e não sonhar com mais nada.
Liberdade de não saber o que me reserva o amanhã e estar completamente feliz com isso.
Liberdade de saber o que eu quero pro amanhã e estar completamente feliz com isso.
Liberdade é tudo.
Liberdade é nada.
Viva a liberdade!
sexta-feira, agosto 11, 2006
Ser
Maravilhoso é descobrir que aquilo que você gostaria de ser, não é exatamente o que você gostaria de ser, a tempo de se sentir satisfeita com quem você é e desencanar totalmente de ser o que você achava que deveria ser.
Não entendeu nada, né? Não tem problema. Não era pra você entender mesmo... Eu só estou de MUITO bom humor hoje pra perder tempo te explicando. ;)
Não entendeu nada, né? Não tem problema. Não era pra você entender mesmo... Eu só estou de MUITO bom humor hoje pra perder tempo te explicando. ;)
quinta-feira, agosto 03, 2006
On the threshold
O chão está gelado e a porta nunca se abre. Ainda sente ecoar em seus ouvidos o baque surdo da porta batendo na sua cara, como se tivesse sido apenas a alguns segundos atrás. Mesmo assim, sabe que já está ali há muito tempo, ainda que não consiga dizer ao certo quanto.
Começa a se lembrar de todas as intempéries enfrentadas enquanto esteve ali e se admira por ainda estar viva, por ainda sentir o calor de seu sangue pulsando em suas veias. Frio, muito frio. De fazer doer a carne. E chuva. De molhar a alma. Ainda consegue sentir as últimas gotas de chuva abundante que secaram sobre o seu rosto. A roupa também não secou desde a última chuva. Fica imaginando quando virá a próxima.
Apesar de a porta não dar sinais de abrir, consegue ouvir alguns sons vindos de dentro. Reconhece algumas palavras e vozes. Algumas delas lhe trazem conforto por breves momentos, mas a maioria, não. Reverberam por horas como trovões a anunciar a próxima chuva que ela não consegue evitar. O frio volta a doer - até o esquecimento.
Revolta-se consigo mesma e tenta se levantar, dar as costas para a porta de uma vez, desistir de esperar que ela se abra. Decide que vai abrí-la ela mesma. Quando estiver aberta usará de violência para fazer cessar aquelas vozes que a atormentam. Uma faca. Há de haver uma faca lá dentro. Não, melhor não chegar a esse ponto. Os punhos devem bastar. Nunca foi forte, mas há de reunir toda a energia de seu corpo para bater com força. Se levanta num esforço descomunal, alimentada por seu ódio. Ódio de si mesma, de sua covardia e de tudo o que fizera até ali. O ódio começa a encher seu corpo de calor e ela sente que será capaz. Mas começa a imaginar o ato desesperado e se acovarda. Arrega. Sente suas pernas bambearem, o calor do ódio se esvai e ela volta a cair, apática. Um espectro do que um dia fora. Sentada sobre a soleira da porta.
Começa a se lembrar de todas as intempéries enfrentadas enquanto esteve ali e se admira por ainda estar viva, por ainda sentir o calor de seu sangue pulsando em suas veias. Frio, muito frio. De fazer doer a carne. E chuva. De molhar a alma. Ainda consegue sentir as últimas gotas de chuva abundante que secaram sobre o seu rosto. A roupa também não secou desde a última chuva. Fica imaginando quando virá a próxima.
Apesar de a porta não dar sinais de abrir, consegue ouvir alguns sons vindos de dentro. Reconhece algumas palavras e vozes. Algumas delas lhe trazem conforto por breves momentos, mas a maioria, não. Reverberam por horas como trovões a anunciar a próxima chuva que ela não consegue evitar. O frio volta a doer - até o esquecimento.
Revolta-se consigo mesma e tenta se levantar, dar as costas para a porta de uma vez, desistir de esperar que ela se abra. Decide que vai abrí-la ela mesma. Quando estiver aberta usará de violência para fazer cessar aquelas vozes que a atormentam. Uma faca. Há de haver uma faca lá dentro. Não, melhor não chegar a esse ponto. Os punhos devem bastar. Nunca foi forte, mas há de reunir toda a energia de seu corpo para bater com força. Se levanta num esforço descomunal, alimentada por seu ódio. Ódio de si mesma, de sua covardia e de tudo o que fizera até ali. O ódio começa a encher seu corpo de calor e ela sente que será capaz. Mas começa a imaginar o ato desesperado e se acovarda. Arrega. Sente suas pernas bambearem, o calor do ódio se esvai e ela volta a cair, apática. Um espectro do que um dia fora. Sentada sobre a soleira da porta.